Talking about my generation..
Tuesday 12 March 2013
Monday 2 July 2012
Carlos Vereza e fragmentos inspiradores
1
“CLÍNICA DO MORRO DOS VENTOS UIVANTES. 1990 . A clínica, suntuosa,
ficava no alto de uma colina. São Paulo, inverno, vento cortante. Não
sei por que me veio à mente um plano geral do filme O Morro dos Ventos Uivantes,
onde o som da chuva e tempestade por instantes confundia-se com o
zumbido, o que me proporcionou um grande alívio – era isso: tinha sempre
que ter um grande ruído que cobrisse aquele horror na minha cabeça.
O Dr. O… dono da clínica, recebeu-me com extrema delicadeza, mas não conseguia conter a perplexidade ao apertar minha mão.
Meu aspecto era o de um aidético em fase terminal, eu estava com um
pouco mais de 40 kg, trêmulo, amparado por um enfermeiro e Delma que
ficou comigo, no mesmo quarto na primeira semana.
O Dr. O… e uma equipe de atendentes colocou-me em uma cadeira de
rodas e conduziram-me por um interminável corredor até o quarto que eu
deveria ocupar. Um dos enfermeiros, talvez para me animar, sussurrou no
meu ouvido-sirene:
– Aí, ó! Você vai ficar no mesmo quarto que o Raul Seixas ficou.
Balancei a cabeça “agradecido” e o cara concluiu:
– Vai ver até que é a mesma cama!
Entramos. Era um quarto amplo, com a tal cama, uma mesa, duas
cadeiras e uma pesada cortina cobrindo o que deveria ser uma janela.
(….) A enfermeira aproximou-se com a seringa, eu deitado na cama de
Raul, como regularmente me era lembrado e, com o tom de voz de menininha
que não cresceu:
– Senhor Vereza, sua veia é do tipo bailarina, mas fique tranqüilo, que eu sempre consigo pegar.
Pegou. Senhoras e senhores! No mesmo instante em que o líquido era
injetado em minha veia, entendi por que o Seixas se internou naquela
clínica: todos os tipos de drogas experimentadas na década de 70 não
passavam de Melhoral Infantil comparados àquela aplicação.
Imediatamente me vi girando numa espécie de disco 78 RPM, só que meio
inclinado, e cada faixa era de uma cor. Eu agarrava uma banda do tal 78
e tive a sensação de sair voando pela janela, atravessando cortinas,
vidraças e o que mais tivesse pela frente!
Vi-me criança, depois adolescente, indo do Lins de Vasconcelos para
Cascadura, com a merenda embrulhadinha em papel de pão e envolta num
guardanapo branquinho. Vi o Zepelim no quintal de minha madrinha, e
comecei a escorregar de faixa em faixa até o que me pareceu ser o pino
central que fazia o disco girar.
Lá estava eu de fardinha, esperando o meu padrasto na Avenida
Presidente Vargas, expedicionário que voltava da Itália: fim da Segunda
Guerra Mundial. Percebi minha mãe, atravessando o cordão de isolamento e
correndo atrás do jipe e tentando beijar meu padrasto e acabou batendo a
cabeça no capacete dele. Ouvi até o som daquela porradinha romântica.
Aos poucos, o disco foi girando cada vez mais lentamente, meio rouco
enquanto arco-íris transmutavam-se em lanternas multifacetadas
brilhantes e deslocavam-se, pouco a pouco, subindo pelas paredes do
quarto e, como balões japoneses, flutuavam sobre minha cabeça. Não sei
quanto tempo durou.
Quando consegui abrir os olhos, a enfermeira com voz de bebê não
estava mais no quarto e, em seu lugar, uma moça sentada numa cadeira ao
lado de minha cama chorava copiosamente. Soube depois que se tratava de
uma psiquiatra que acompanhara toda a minha “gravação” em 78 RPM”
2
“BREVE SOLILÓQUIO: A minha ida a Paris não teve nada a ver com o
glamour de autoexilado perseguido pela ditadura (embora eu tenha sido),
nem o charme de sentar-me à mesa do Café de Flore, próximo ao de Sartre e
Simone. Não: o fato em si, como já disse, foram os prêmios que me
possibilitaram esta viagem. Se eles tivessem como destino o Alasca, o
Tibete ou o Kilimanjaro, enfim, qualquer lugar que fizesse frio e
ficasse bem distante do Brasil, eu teria ido da mesma maneira.
Fui sequestrado duas vezes, torturado comme il faut, minha
mãe, em consequência, teve um aneurisma e morreu em sete dias, segurando
a minha mão, e eu tive que ordenar aos médicos que desligassem os
aparelhos.
Minha mãe, que num conjugado de vinte metros quadrados, escondera
parte do Comitê Estadual do Partido Comunista, porque o filho pedia. Eu
queria sair, desaparecer deste absurdo de país, que conseguiu ir da
descoberta à decadência, sem fazer baldeação. Este povo apático,
desfibrado… A verdade é que a Ditadura acabou, porque não interessava
mais aos Estados Unidos. Os militares dizimaram os guerrilheiros e ainda
contavam com o apoio de grande parte da classe média. Poderiam, se
quisessem, permanecer mais uns dez anos no poder”.
3
“MURO DA VERGONHA. Berlim, 1986. Antes de voltar ao Brasil, Larissa
perguntou-me o que era liberdade. Como não sei o significado até hoje,
aluguei um carro por 250 francos, comprei tinta, pincéis, um balde e
fomos até Berlim.
Mostrei-lhe o muro – realmente uma vergonha – expliquei-lhe que
aquele paredão era a falta de liberdade; que famílias estavam separadas
há anos e, quem tentasse fugir do lado Oriental para o Ocidental, era
sumariamente executado.
Larissa não hesitou: “pegou o espírito da coisa”, mais um pincel e
pichou em azul no muro: PAZ! BRASIL! Olhou para mim toda orgulhosa…
E ali, no olhar de minha filha, esvaneceu-se o comunista dentro de mim…”
Wednesday 20 June 2012
Sunday 17 June 2012
visual reflections: daniel danger
"i don't even like to be seen in the parking lot between the movies and the drink and the glass, whatever the hell that means".
Thursday 14 June 2012
Tuesday 29 May 2012
Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.
Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-a
como uma quilha corta
as ondas
Maiakóvski
Sunday 20 May 2012
Friday 18 May 2012
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